Entrevista à
Imprensa
O Engenheiro Emílio Ibrahim,
indicado por expressivas forças políticas
pedessistas do Estado do Rio de Janeiro para concorrer ao Governo
Estadual, foi entrevistado pela imprensa local, que sempre lhe
tributou caloroso reconhecimento ao seu trabalho profícuo
como Secretário de Obras em dois períodos distintos.
Desse encontro com os jornalistas
cariocas é documento significativo a entrevista que vai a
seguir reproduzida, onde algumas de suas idéias de governo
são alinhadas, a partir das questões levantadas
pelos entrevistadores.
Os pontos abordados abrangem desde
diretrizes do seu ideário político a questões
da atual conjuntura brasileira, como a necessidade da convocação
de uma Assembléia Nacional Constituinte, e tópicos
de sua atuação governamental.
O ex-Secretário de Obras Emílio
Ibrahim, candidato do PDS à sucessão fluminense,
declarou à Imprensa ser um candidato autêntico do
Governo, o que diz "com o maior orgulho". Acrescentou
ser o único candidato que tem entrosamento com o Planalto o
que, segundo ele, garante "o suporte financeiro que o Estado
necessita para executar seu programa de governo".
Emílio Ibrahim iniciou sua
vida pública através de convite do Governador Carlos
Lacerda, em cuja administração ocupou cargos de
destaque, como presidente da então ADEG (Administração
dos Estádios da Guanabara). Nesta entrevista assinalou ele
pretender marcar sua posição na campanha eleitoral
como administrador; disse acreditar que o Presidente da República
fará todo o esforço para transformar em diretas as
próximas eleições presidenciais.
Por que o senhor decidiu ser
candidato ao Governo do Estado?
- Em primeiro lugar, acho que fiz o
necessário curso para ser o governador do Estado do Rio de
Janeiro, através de 30 anos de serviços prestados em
diversos setores, seja no campo social, de obras públicas,
previdência social, educação, saúde,
cultura e de esportes. Acredito que passei com boa nota. Trago,
com isso, a experiência necessária no terreno
administrativo.
O PDS foi uma boa escolha?
- Eu deixei o PP porque ele foi
extinto. Acho que nas atuais circunstâncias, o PDS é
o partido que tem o seu programa ajustado à minha formação
política, democrática e cristã, sem comportar
qualquer radicalismo. Ele me dá, no momento, condições
para realização de um programa de governo
verdadeiro, sem tons coloridos, líricos ou quase poéticos,
que acabam ficando no papel. Ingressar no PDS é, para mim,
também um reconhecimento aos esforços do Governo
Federal, que, à época em que fui Secretário
de Obras, me deu todo o apoio para a realização de
obras.
O senhor espera ser candidato único?
- Fui convidado pela bancada
federal do PDS fluminense para ser o candidato do partido ao
Governo do Estado. Não tenho qualquer dúvida quanto à
condição de candidato único, o que muito me
honra.
O que o senhor tem a oferecer?
- Quero oferecer ao povo do Estado
um governo austero e realizador, com uma equipe jovem e
competente, capaz de levar nosso Estado à condição
de grandeza dentro do cenário nacional. Será,
sobretudo, um governo voltado para a justiça social, para o
homem, para o trabalhador urbano e do campo, para a família;
penso em uma administração marcadamente
municipalista, voltada para os problemas internos e com uma visão
da questão nacional para reforçar a tese do
restabelecimento da Federação.
Como o senhor pretende conduzir
sua campanha eleitoral?
- Pretendo marcar minha posição
na campanha como um administrador, embora também seja um
político, um homem que tem um conhecimento profundo dos
problemas do Estado, não só na capital como também
no interior; estou sempre ausente dos cochichos, mas presente nos
canteiros de obras; como de meu feitio, nunca fui de prometer e a
minha pregação é um retrato conhecido pelo
povo fluminense.
O fato de não ser
oposicionista atrapalha?
- Acho que não. Não
sou oposição a ninguém, pois o que eu avisto é
o lado do desenvolvimento e do progresso do Estado. O que eu sinto
é que o povo está cada vez mais interessado em um
bom administrador, um governo que traga prosperidade e uma melhor
qualidade de vida.
O senhor acha que leva
vantagens sobre os demais candidatos, já que o PDS se diz
ser o único que tem condições de conseguir
recursos federais?
- Na realidade, sou um candidato
diferente. Em primeiro lugar, só o fato de estar disputando
as eleições, incentivando o debate, já é
de grande importância. Mas o fundamental é a proposta
que eu estou apresentando. Creio que, diante das credenciais de
quem está no serviço público há trinta
anos, o povo não terá outra opção.
Acho que o povo fluminense não pode cometer o erro histórico
de não eleger este candidato ao governo do Rio, que é
sem falsa modéstia, o que mais conhece todos os seus
problemas. Além do mais, sou realmente o único que
tem entrosamento com os canais competentes do Planalto, o que
traduz o suporte financeiro de que o Estado necessita para
executar seu programa de governo.
Se for eleito governador,
acredita que poderá se livrar da tutela da União?
- Serei um governo que lutará
pela autonomia do Município e do Estado. Por isso mesmo,
vemos com muita simpatia os estudos preliminares relativos à
reforma tributária que o Governo Federal está
elaborando. Creio que só assim terei condições
de realizar o programa que estou preparando.
Como desportista e ex-jogador
de futebol (na década de 1950, integrou os quadros do
Fluminense) o senhor pretende dar algum Incentivo nessa área?
- Pretendo criar várias áreas
de lazer e aumentar o número dos campos de pelada nos subúrbios.
Com vistas ao futebol profissional, acho importante a Baixada
Fluminense ter um estádio de porte médio, com
capacidade para 70 mil pessoas. Quero esclarecer que esse estádio
não seria construído com recursos do Estado, que
daria apenas uma ajuda a qualquer clube que tivesse essa
iniciativa.
O senhor acha que, se eleito,
terá condições de resolver a questão
da violência urbana?
- Não vou fazer demagogia,
pois acho que esse é um problema que merece um estudo
profundo, avaliando causas e efeitos. Acho que tem de se dar
emprego, muito mais emprego. Um dos meios para se conseguir isso é
através da industrialização do Estado. A
curto prazo, o que pretendo fazer é colocar a polícia
na rua, para proteger a população. E, nesse aspecto,
serei rigoroso.
Em sua opinião, quais são
os partidos de Oposição?
- Há no momento, um
regionalismo muito grande em relação à oposição
efetiva. No Rio de Janeiro, por exemplo, temos só o PT, o
PDT e o próprio PDS. Os demais são falsas oposições
e querem faturar em cima disso.
Que setores da população
apóiam sua candidatura? -
Todos os setores. Acho que os
intelectuais, profissionais liberais, estudantes, donas-de-casa e,
principalmente, os meus sofridos colegas servidores estaduais não
podem deixar de apoiar um candidato que sempre zelou pelo bem público
em seus 30 anos de serviços prestados.
Os Governos estaduais têm
sido antipatizados por sua política de aumento de impostos.
Eleito governador pretende acabar com isto?
- Claro que sim, mas dentro das
possibilidades e do campo de ação de um governador.
Não gosto de aumento de tributos, sempre fui contra. Serei
um atento defensor dos direitos do cidadão.
Dos candidatos, o senhor é
o único que não é considerado um político
de carreira. Acha que é possível conciliar política
e administração?
- É perfeitamente possível,
e necessário, conciliar as duas coisas. Sempre procurei
fazer isso. Penso que as atividades do ramo executivo devem ser
condicionadas pela Política como um esforço conjunto
de realizações que beneficiem a coletividade.
Alguns candidatos falam muito
em estatizar alguns setores. Há necessidade disso?
- Na verdade, há setores
que não podem fugir à estatização.
Ainda estou preparando o meu programa e não estou
interessado em citá-los. Agora, sou amplamente favorável
à política de privatização, aberta ao
desenvolvimento. E é claro que um desenvolvimento efetivo e
com maior participação só pode ser feito com
uma maior expansão do setor privado, da economia de
mercado.
O senhor acha que as eleições
deste ano poderão influir na eleição do
sucessor do presidente João Figueiredo? -
Podem ter influência sim.
Acho que o grande propósito do presidente João
Figueiredo é o de realmente redemocratizar o Brasil. Temos
assistido ao longo de seu governo a toda uma demonstração
disso e uma das conquistas maiores foi a da anistia. Isso é
inegável e conseguiu desarmar até os espíritos
mais radicais, que procuram hoje outros argumentos para atacar o
Governo. Creio que o Presidente da República fará
todo o esforço para transformar em diretas as próximas
eleições presidenciais. Até agora não
creio que possa haver dúvida quanto à sua atuação
à frente do Executivo.
Como o candidato do PDS
fluminense vê a questão da convocação
de uma Assembléia Nacional Constituinte?
- Acho que no momento em que o País
começa a reordenação de sua vida política,
nada mais justo que o povo participar da elaboração
de uma nova Constituição. E isso realmente só
será possível com a convocação de uma
Assembléia Nacional Constituinte. A questão, porém,
não é tão simples quanto parece. Minha
impressão é de que o Brasil necessita de um novo
ordenamento jurídico, mas isso tem de ter respaldo do
Presidente da República. De acordo com as minhas convicções,
entendo que, reordenando-se a vida política do País
há necessidade de a população manifestar-se
sobre uma Constituição duradoura e estável, o
que só é possível através da convocação
de uma Assembléia Nacional Constituinte. Entendo, também
que, sendo possível, de imediato, esta medida, o futuro
Congresso Nacional, tendo a prerrogativa de aprovação
de emendas constitucionais, através de maioria simples, terá
condições de fazer alterações que
entender necessárias para o aperfeiçoamento da atual
Constituição.
Se o senhor, eleito governador,
não conseguir maioria na Assembléia Legislativa,
como seria o governo do PDS? De coalizão?
- Em países considerados
democráticos, a forma de governar é a da coalizão,
que é, aliás, a mais democrática e a mais
saudável. Acho que isso é o que vai ocorrer em
muitos Estados. Acho fundamental que todas as camadas da população
fiquem bem representadas e isso só é possível
através do pluripartidarismo. Não conheço
outra forma. Aliás, gostaria de lembrar que a Oposição,
no Brasil, às vezes, pensa de maneira errada e já
houve ocasiões em que ela se considerava a dona da opinião
pública nacional. Acho que isso não deve ocorrer,
principalmente no Brasil, um país com várias tendências,
inclusive religiosas.
O senhor acha que a vinculação
total dos votos ajudará o PDS do Rio?
- Como sempre, vou procurar ser
franco: em relação à minha candidatura, a
coisa ainda está meio embaralhada, porque entrei agora na
luta e na campanha, quando há três anos dois
candidatos já estão em campanha - o do atual PMDB e
do PTB. Eles já conseguiram somar alguma coisa e têm
bons quadros. No entanto, como eleição se perde ou
se ganha dois meses antes da apuração, a vinculação,
que é um meio de fortalecer os partidos, poderá
ajudar em muito o PDS, que tem uma boa estrutura partidária
e nomes excelentes.
O Estado do Rio é tido
como de tradição oposicionista. O senhor não
acha que isso pode atrapalhar o PDS?
- Falam muito e, na prática,
a gente vê pouca coisa. Na minha opinião, a situação
hoje é um pouco diferente. Não esqueça que no
Rio o PDS é oposição. O quadro eleitoral, com
o pluripartidarismo, está bastante dividido e temos
estudado muito esse aspecto. Os reais votos de Oposição
vão mesmo para o PT e o PDT, que se somarão à
divisão entre os demais candidatos. O PDS tem uma boa
estrutura, sobretudo no interior do Estado, minha impressão
é de que, quem ficar com 30 por cento do eleitorado poderá
ganhar a eleição.
|