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Recuperação
e saneamento da Lagoa Rodrigo de Freitas. |
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HISTÓRICO DA
RECUPERAÇÃO DA LAGOA RODRIGO DE FREITAS
Emílio
Ibrahim *
Um dos problemas desafiadores
mais recorrentes, na administração da cidade do
Rio de Janeiro, é, sem dúvida, o da recuperação
sanitária da Lagoa Rodrigo de Freitas, pelas implicações
de natureza diversa que causam ao meio ambiente e à
imagem turística de um dos recantos de maior beleza
paisagística desta cidade.
A complexidade das medidas técnicas
para a realização do definitivo equacionamento e
solução do problema tem posto à prova a
inventividade e os recursos tecnológicos disponíveis,
ao longo de muitas décadas, a rigor, desde o longínquo
ano de 1864, constituindo-se num desafio ecológico de
importância técnica, histórica e política,
que os sucessivos governos têm enfrentado.
Sob um enfoque estritamente técnico,
a enorme carga de nutrientes carregados pelos esgotos sanitários
e águas pluviais, no entorno da Lagoa, deflagra um
processo acelerado que se caracteriza pelo estado de permanência
das águas com riqueza de nutrientes dissolvidos, mas
deficientes em termos de oxigenação.
Os efeitos danosos dessa situação
residem, em seus aspectos mais visíveis, ao alcance de
qualquer circunstante leigo, na periódica mortandade de
peixes, que mobiliza, num esforço redobrado e
emergencial, os órgãos governamentais voltados
para o problema, em operações indispensáveis
à regularização das condições
sanitárias daquela área recreacional e turística.
Em 1973, o Governo do então
estado da Guanabara celebrou um convênio com o Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD
e com a Organização Mundial de Saúde -
OMS, para o saneamento do meio ambiente do estado, com aprovação
do Governo federal, no qual estava inserido, de modo marcante,
o Projeto de recuperação e Saneamento da Lagoa
Rodrigo de Freitas.
Na qualidade de Secretário
de Obras Públicas, incumbi o Instituto de Engenharia
Sanitária - IES, do Estado, sob a direção
do engenheiro José Santa Rita, de realizar o
acompanhamento da execução do projeto, cujo
desenvolvimento contou com a eficiente participação
dos serviços de Engenharia do Instituto de Limnologia
da Universidade de Lund, da Suécia.
As atividades nele
compreendidas contemplaram, então, o levantamento do
perfil de sedimento do fundo da Lagoa, a realização
de estudos experimentais, o mapeamento de toda a Lagoa, e
outros trabalhos executados nos laboratórios do IES,
com a assistência de consultores nacionais e suecos.
A efetiva realização
do projeto foi retomada em 1980 até 1982, quando
retornei à Secretaria de Obras e formei um grupo de
trabalho composto de técnicos da CEDAE, FEEMA e SERLA,
tendo sido elaborado um cronograma de obras que abrangeu as
seguintes etapas dos trabalhos:
- Implantação de
um laboratório permanente, no local, a cargo da
FEEMA, com vistas à realização de análise
e controle das águas da Lagoa;
- Neutralização
da contribuição de esgotos lançados em
diversos pontos da margem da Lagoa, com a utilização
das galerias de águas pluviais;
- Recuperação de
duas comportas, de entrada e saída das águas
do mar, que há anos se encontravam abandonadas;
- Drenagem do lodo ativo do
fundo da Lagoa, em diversos pontos, com lançamento na
rede de esgotos, proporcionando um melhor escoamento para o
Emissário de Ipanema, operação
realizada durante as madrugadas, em razão da baixa
carga da rede;
- Execução de
serviços de dragagem no canal que liga a Lagoa ao
canal da Av. Visconde de Albuquerque, com travessia sob as
pistas do Jóquei Clube, instituição que
prestou uma preciosa colaboração, executando
obras sanitárias em sua área interna;
- Permanência constante
de duas dragas, sendo uma de reserva, na Praia do Leblon,
para retirada de areia, no canal de Alá, evitando o
seu assoreamento.
Os resultados obtidos com a
execução desse projeto foram mais eloquentes,
porque representaram o fruto da aplicação de técnicas
de engenharia, que primaram pela simplicidade e ausência
de sofisticações tecnológicas,
revelando-se bastante satisfatórios, atingindo-se o
objetivo de conseguir-se o estancamento da mortandade de
peixes, por um período de dez anos, até 1992,
segundo avaliação dos técnicos
componentes do aludido grupo de trabalho.
É importante ressaltar
que a solução adotada requereu a conjugação
de esforços, num somatório de ações
na linha daquele projeto de recuperação da
Lagoa, cuja execução, em sua segunda fase,
estendeu-se de 1980 a 1982, e contou com a participação
de técnicos extremamente competentes, que souberam
respeitar a tradição da excelência técnica,
que marcou já em 1922 a implantação do
atual sistema de saneamento, sob a responsabilidade do
renomado engenheiro Saturnino Brito, na gestão do então
prefeito Carlos Sampaio.
As razões que militam
ainda em favor desse projeto residem no fato histórico
inconteste de que ele se revelou de eficácia
comprovada, capaz, afinal, de representar a concretização,
sem delongas, do velho sonho de serem sanadas as mazelas
ambientais da belíssima Lagoa Rodrigo de Freitas.
Lamentavelmente, a ausência
de continuidade da manutenção programada das
instalações e dos procedimentos implantados,
redundou no recrudescimento, após dez anos, do fenômeno
da mortandade de peixes.
Administrações
posteriores a 1992 reiniciaram e mantiveram, enfim, os serviços
de recuperação da Lagoa, numa linha de ação
compatível com os objetivos e medidas introduzidos pelo
projeto inicial, visando à expansão das galerias
de águas pluviais e esgotos, por meio de um "cinturão"
de proteção, destinado a neutralizar a contribuição
da rede de esgotos à poluição da Lagoa,
adotando-se o sistema de renovação da água,
parâmetro básico que norteou a concepção
do projeto de eliminação do lançamento
direto dos esgotos sanitários, na Lagoa, desenvolvido
em década passada.
Como fecho das considerações
aqui expendidas, ressalto o competente trabalho de complementação
das obras do projeto anterior e de adequada manutenção
de suas instalações, ora executado pelo atual
corpo técnico, de alto gabarito, constituído
pelos engenheiros da CEDAE, e de seu dirigente, com aplausos
ao Secretário de Obras que, em conjunto com o
Governador, tem agido em perfeita interação com
o Governo Federal para o desenvolvimento do Estado do Rio de
Janeiro. Incontestavelmente, tais obras são indispensáveis
à recuperação da Lagoa Rodrigo de
Freitas, um dos cartões postais mais representativos da
beleza de nossa cidade.
Rio, janeiro de
2010.
*Engenheiro - Foi Secretário
de obras dos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro.
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