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Eng. Emílio Ibrahim,
Patrono das turmas de engenharia da Universidade Gama Filho
Meus Afilhados,
O reconhecimento da dívida
de gratidão, que contraí com vocês, por essa
generosa escolha para patroneá-los na cerimônia de
sua formatura, deve, necessariamente, preceder quaisquer palavras
que lhes possa transmitir, em meio a esse júbilo incontido
pela sua entrada em um novo estágio de vida.
Muitíssimo grato sou por
essa indicação, menos por méritos, que não
tenho porque os proclamar, e mais pela convivência
permanente, em toda a minha vida pública, com os
profissionais de Engenharia, em cujo seio todos vocês
souberam por merecer ingressar agora. A eles devo os êxitos
que obtive, porque só a conjugação de esforços
- leal e patrioticamente conduzidos - pode vencer obstáculos
e contornar dificuldades que, freqüentemente, se opõem
aos governantes. Espero em Deus que, doravante, os dirigentes e a
sociedade contem com a sua participação criativa na
conquista de marcantes realizações técnicas,
que constituem a base de sustentação do
desenvolvimento econômico e social do Brasil, para superação
dos nossos infortúnios políticos, da estagnação
econômica do país, e das condições de
miserabilidade de grande contingente do seu povo.
Tenho a convicção do
sucessivo progresso de vocês em sua nova profissão,
ao recolher de Péricles, o notável político
grego da antiguidade, a assertiva de que "nos negócios
particulares, todos são iguais a perante a lei, mas as funções
públicas e a consideração política só
as obtêm os que têm talento e probidade. O mérito
pessoal, muito mais do que as condições sociais,
abre caminho às honras. A obscuridade do nascimento, a
pobreza e até a indigência não fazem estacar o
cidadão, que tem capacidade para servir à Pátria".
O exemplo próprio que posso
oferecer-lhes remonta aos primórdios de minha formação
escolar, seguidos de preparatórios acadêmicos, em
Ouro Preto, e conclusão do curso de Engenharia Civil na
antiga Escola Nacional de Engenharia. Exemplo de esforço
diuturno, que me levou à assunção de cargos públicos,
técnico-executivos, tão logo, como vocês o
fazem agora, transpus de volta os umbrais da Universidade, com a
responsabilidade de detentor de um título de Engenheiro,
que a todos nos engrandece. Vencida a perplexidade inicial, que,
por certo, também lhes está acometendo, neste
momento, ao ingressarem no mundo afanoso da técnica, o
labor continuado me fez ascender a cargos de direção,
que me proporcionaram trabalhar pela melhoria crescente da nossa
mui valorosa Cidade do Rio de Janeiro. Na qualidade de Secretário
Estadual de Obras e Serviços Públicos conduzi a
execução de empreendimentos de valor significativo
para o desenvolvimento e bem-estar de nossa comunidade, dentre
muitos outros, a implementação do projeto e o início
de construção das Linhas Vermelha, Verde e Amarela,
como partes integrantes do sistema viário de linhas policrômicas
do nosso Estado. Neste mesmo contexto, inscrevem-se o Elevado
Paulo de Frontin, os túneis Frei Caneca, Noel Rosa e Dois
Irmãos, o emissário submarino de Ipanema, o
Prolongamento da Avenida Perimetral, e quadruplicação
do volume do sistema de águas do Guandu, bem como as
adutoras da Baixada Fluminense e Barra da Tijuca. Importante
ressaltar que todas as nossas realizações obedeceram
ao princípio de que as obras públicas devem ser
ajustadas às reais necessidades de seus destinatários,
medindo-se por sua exata utilização social.
Os tempos e costumes atuais, que
fariam Cícero tornar a vergastá-los sem piedade,
como o fizera na Roma Antiga (Ó tempora! Ó mores!),
estão lhes transferindo, a todos vocês, jovens e
idealistas, uma enorme sobrecarga de responsabilidade, uma herança
ominosa de arcar, em sua vida profissional, com os percalços
de gerir os destinos da sociedade brasileira, em funções
públicas ou privadas, e conduzí-los para rumos mais
consentâneos com os postulados da ética e da decência,
do recato pessoal e da probidade administrativa. Há que,
celeremente, ser reconstruído este País, moralmente,
com base na participação efetiva de cada indivíduo
quem componha a parcela viva e sã da nacionalidade.
Em meio aos seus anseios de vitórias
e progressos em suas vidas, considerem-se vocês depositários
das esperanças de criação de novos tempos e
costumes, para que possamos, os das velhas gerações,
ainda assistir à inserção do Brasil na condição
de partícipe do usufruto dos povos subdesenvolvidos, social
e economicamente.
Concito-os, portanto, meus
afilhados, à reflexão e à ação,
a partir desta hora, marco de transição oficial de
suas vidas para o universo da técnica, em que o mais nobre
dos seus sentimentos remanescentes, a gratidão a seus
mestres, deve mantê-los fiéis a esta Escola, que foi
testemunha da árdua luta que vocês enfrentaram, a
despeito de eventuais contestações e divergências
flagrantes. O tempo logo haverá de dissipa-las, e
solidificar em vocês a crença de que as tradições,
os exemplos, "o saber de experiência feito", de
que nos falava o poeta maior de nossa língua, constituem em
patrimônio inalienável, que cumpre ser,
diligentemente preservado. Vocês, também, já
os estão construindo para nossos pósteros.
Deixo-lhes uma mensagem de profunda
confiança no futuro de vocês porque, da ação
renovadora da mocidade, inteligente, progressista e dinâmica,
é que podemos acreditar em soluções viáveis
e definitivas paras os problemas do Brasil.
Meus caros afilhados:
O excelso poeta Fernando Pessoa, entre os seus inúmeros
heterônimos, criou a figura de um engenheiro, Álvaro
de Campos, para exteriorizar uma de suas múltiplas
personalidades. Por intermédio dele, deplorou, em sua Ode
Triunfal, não poder exprimir-se todo "como um motor se
exprime", nem "ser completo como uma máquina!".
Pois é nesta situação que me encontro agora
de não lhes ter transmitido fielmente as minhas emoções
e a minha gratidão a vocês, marcado que sou por essa
sensação de ausência de um incisivo poder de
expressão, de que nos fala o poeta.
Só me resta, portanto,
nestas palavras de despedida, enveredar pela senda do lugar comum
de um singelo agradecimento:
Muitíssimo obrigado a todos
vocês. Deus os abençoe,
meus queridos afilhados.
Discurso, em 1992.
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