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Seminário sobre
Problemas de Infra-Estrutura do Município do Rio de Janeiro
Ao lado de congressos, painéis,
simpósios e ciclo de conferências, a realização
de seminários, dentro de temas atuais e objetivos, como
ocorreu neste encontro que agora se encerra, constitui não
apenas um meio eficaz de comunicação direta, mas,
sobretudo, um excelente método de "reciclagem",
de treinamento em grupo, para técnicos de alto nível,
principalmente porque, em paralelo com exposições
organizadas segundo um temário que procurou atender aos
problemas da maior atualidade, para a Cidade do Rio de Janeiro, em
termos de infra-estrutura, houve uma abertura ampla aos debates.
Tudo isto, proporcionou troca de conhecimentos, intercâmbio
de idéias entre expositores e participantes, todos técnicos
militantes no mesmo campo, embora em setores distintos, e - o que
é tudo - inspirados no mesmo ideal, que lhes é comum
de, elevando-se profissionalmente, procurar cada vez melhor servir
à coletividade.
Pelas vozes autorizadas que aqui se
fizeram ouvir, ficou patenteada a importância dos serviços
de infra-estrutura, também chamados, com justa razão,
de serviços públicos essenciais, porque eles de fato
são fundamentais para a coletividade; são daquele
tipo de serviço que, embora representando enorme soma de
investimentos e se caracterizando pela sua alta complexidade, do
ponto de vista técnico-administrativo, aparecem,
geralmente, sem grandes alardes, diferentemente de certas obras
suntuosas que, sem o mesmo alcance social, refletem muito mais a
satisfação de vaidades pessoais que o interesse público.
Todos esses fatores exigem esforços
conjuntos das várias esferas de Governo para resolver os
problemas que envolvem os nossos centros urbanos e rurais, muitos
deles, de tal envergadura e abrangência, que extravasam os
limites dos municípios dos Estados, para se tornarem
regionais.
Tudo isto faz com que, freqüentemente,
a presença efetiva dos órgãos da União
se faça necessária, para vir em auxílio das
unidades da Federação, presença que,
felizmente, não tem faltado, dentro das diretrizes traçadas
pelo atual Governo.
Os principais problemas de
infra-estrutura do Rio de Janeiro, a cargo da Secretaria de Estado
de Obras e Serviços Públicos, notadamente os de água,
esgoto, gás e engenharia do meio-ambiente, foram abordados
neste Seminário, com segurança e clareza, pelos
nossos companheiros, dirigentes da Companhia Estadual de Águas
e Esgotos - CEDAE, da Companhia Estadual de Gás do Rio
Janeiro- CEG e da Fundação Estadual de Engenharia do
Meio Ambiente - FEEMA, órgãos que, estando
vinculados à nossa Secretaria, cuidam especificamente
dessas atividades; seria, pois, supérflua, e até
redundante abordá-las neste nosso breve pronunciamento.
O mesmo se diga com respeito aos
demais assuntos aqui tratados e debatidos, todos de igual importância
e que, por isso, merecem o mesmo destaque.
Gostaríamos, apenas, de
dizer porque nos declaramos um dos muitos defensores da humanização
das nossas cidades que, sob este aspecto, o Rio de Janeiro, como
acontece com outros centros urbanos do mesmo porte, está a
merecer uma atenção toda especial par parte das
autoridades responsáveis pelos seus destinos.
O problema da carência de
humanização das metrópoles, pelo que encerra
de verdadeiro e real nos tempos modernos, tem merecido estudos
constantes, enfoques os mais diversos e explica muitas coisas.
Tem razão Hans Blumenfeld,
eminente Professor da Universidade de Toronto, quando diz que: "a
migração centrípeta do campo para a cidade
permanece grande até hoje, mas agora existe, igualmente,
uma forte onda de migração centrífuga, da
cidade para os subúrbios. Embora, em escala nacional, a
população esteja se tornando cada vez mais urbana,
está havendo dentro das cidades uma crescente descentralização.
A ação conjunta dessas tendências produziu a
nova forma de estabelecimento que denominamos metrópole. Já
não é a cidade, como essa instituição
era compreendida no passado, mas, por outro lado, evidentemente, não
é o campo. O fato da metrópole não ser mais
cidade nem campo deu lugar ao aparecimento de críticos nostálgicos
que pregam uma volta ao verdadeiro urbanismo e à verdadeira
vida campestre".
É evidente que, em face das
inexoráveis tendências tecnológicas e econômicas
que criaram a metrópole, estes termos radicais de concepção
dos críticos a que se refere Blumenfeld, estão, como
ele próprio acentua, a requerer uma nova e diferente
interpretação que, fugindo ao sentido nostálgico,
possa dar, por meio de projetos de urbanismo adequados, soluções
positivas, de sentido técnico. E é isto o que se
busca.
De qualquer modo, vale a citação
para dizer a que ponto leva a desumanização,
infelizmente comum, hoje em dia, nas nossas metrópoles. Daí
a importância extraordinária que atribuímos a
este problema, que angustia, sufoca e neurotiza as populações
dos grandes centros urbanos.
Concluímos este nosso comentário
sobre o lado humano das cidades civilizadas, trazendo à
lembrança deste culto auditório trecho muito
expressivo de uma antológica peça que se tomou
famosa: a carta do Chefe Seattle que, em 1855, respondeu à
proposta dos Estados Unidos de comprar a terra dos índios,
e cujo texto foi divulgado pela UNEP - Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente.
Dentre outras passagens de rara
simplicidade e beleza, recolhemos esta lição:
"A visão de vossas
cidades faz doer os olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o
homem vermelho é um selvagem e como tal nada possa
compreender.
Nas cidades do homem branco não
há um só lugar onde haja silêncio, paz. Um só
lugar onde ouvir o farfalhar das folhas na primavera, o zunir das
asas de um inseto. Talvez seja porque sou um selvagem e não
possa compreender. O barulho serve apenas para insultar os
ouvidos. E que vida é essa onde o homem não pode
ouvir o pio solitário da coruja ou o coaxar das rãs à
margem dos charcos à noite? 0 índio prefere o suave
sussurrar do vento esflorando a superfície das águas
do lago, ou a fragrância da brisa, purificada pela chuva do
meio-dia ou aromatizada pelo perfume das pinhas".
E já naquela ocasião
o provecto selvagem alertava que o desaparecimento paulatino das
características naturais do meio ambiente marcaria o final
do viver e o início de tão somente sobreviver.
Há, ainda, dois aspectos a
focalizar, sobre serviços públicos de
infra-estrutura, que reputamos da maior relevância e para os
quais chamamos a atenção dos presentes. Um, diz
respeito à necessidade de se organizarem planos integrados,
por meio dos quais se promova, mediante coordenação
adequada, um constante e estreito entendimento, para ação
conjunta, entre os vários órgãos, inclusive
empresas concessionárias de serviços públicos,
de modo que, na mesma ocasião, se desenvolvam as obras
relativas a um mesmo local ou região, quer para implantação,
expansão ou reparos. Como exemplo de plano integrado de
infra-estrutura, podemos citar a nossa experiência, quando,
no primeiro Governo Chagas Freitas, à frente da então
Secretaria de Obras Públicas, do antigo Estado da
Guanabara, assumimos a coordenação geral de todos os
serviços de infra-estrutura que, naquela oportunidade, ao
realizarmos a urbanização de São Conrado,
foram levados àquele bairro, através da Avenida
Niemeyer, todos implantados ao mesmo tempo, compreendendo água
(antiga CEDAE), esgoto (antiga ESAG), energia elétrica
(LIGHT), telefones (antiga CTB e CETEL), gás (CEG) e
pavimentação (DER).
Assinale-se, por oportuno, que a
execução daqueles serviços é
considerada, nos dias de hoje, como obra padrão no gênero,
não só pela forma integrada com que foi concebida,
como pelo tempo recorde, em que foi realizada (120 dias), mas,
sobretudo, pela excelência das qualidades técnicas do
produto final que dela resultou.
Outro aspecto, não menos
importante, consiste no seguinte: não basta apenas
implantar serviços de infra-estrutura, é preciso
conservá-los em condições ótimas de
funcionamento, por intermédio de um sistema permanente de
manutenção. Também neste caso, vale relatar
que, no anterior Governo Chagas Freitas, criamos, subordinada à
então Secretaria de Obras, uma Coordenadoria de Serviços
de Manutenção e Conservação de Obras,
visando exatamente ao objetivo mencionado, de assegurar a
permanente continuidade dos serviços de infra-estrutura.
Esta é a nossa filosofia, o
nosso pensamento a respeito do assunto e que, agora como antes,
estamos procurando manter como diretriz a ser seguida na execução
dos serviços hoje a cargo da Secretaria de Estado de Obras
e Serviços Públicos.
Sobre plano integrado, já
que a ele nos referimos, cabe aqui, muito a propósito, um
comentário que engloba, de certo modo, a própria
história do Rio de Janeiro. Os problemas básicos da
nossa Cidade, sobretudo os de infra-estrutura, embora
identificados de há muito, não foram, na sua grande
maioria, resolvidos a tempo; ao contrário, acumularam-se ao
longo dos anos para explodirem quase que concomitantemente,
acarretando considerável aumento de custos para a sua execução
e impondo maiores sacrifícios à população,
em termos de tributos e desconforto.
Lembramo-nos de que, ainda
estudante de engenharia, servindo como Oficial de Gabinete do
honrado ex-Prefeito João Carlos Vital, acompanhamos, de
perto, a elaboração do famoso Projeto 1000, de
inspiração daquele eminente homem público,
projeto que, se posto em execução, a partir de 1951,
quando foi apresentado, teria hoje resolvido os graves problemas
que o Rio já enfrentava, muitos dos quais ainda enfrenta.
O Projeto 1000, o primeiro Plano
Integrado de Governo no antigo Distrito Federal, previa a execução
das seguintes obras e medidas para a Cidade do Rio de Janeiro:
construção do Metropolitano; construção
da Adutora do Guandu; desmonte do Morro de Santo Antonio; construção
das Avenidas Radial Oeste, Perimetral e Norte-Sul; abertura dos Túneis
Rebouças e Uruguai-Gávea; implantação
dos serviços de "trolley-bus"; conclusão
das Avenidas Brasil e Bandeiras e duplicação da
Avenida Grajaú-Jacarepaguá; construção
de 160 escolas primárias; construção de armazéns
frigoríficos, silos, câmaras de expurgo, entrepostos
em mercados de gêneros alimentícios; execução
de serviços para resolver o problema das enchentes; construção
de usinas de incineração de lixo; construção
de hospitais-sanatórios, com capacidade para 2000 leitos, e
construção do Palácio da Municipalidade.
Muitas dessas obras não
foram realizadas e as que o foram, como a Adutora do Guandu e o Túnel
Rebouças, tiveram sua conclusão efetivada 14 anos após,
sendo que o Metrô permanece ainda em execução,
consumindo considerável soma de recursos e impondo enormes
sacrifícios à população de nossa
Cidade.
Daí que, para evitar que
esses erros históricos venham a se repetir, necessário
se torna, e nunca é tarde para isto, levar avante
movimentos como este, que sirvam de alerta, que promovam a
conscientização geral sobre os problemas de
infra-estrutura e outros da mesma relevância.
Seminários, como o que ora
se encerra, representam poderoso instrumento para ajudar a
identificar problemas, firmar diagnóstico de situações
e recomendar as medidas mais atualizadas e adequadas para
viabilizar soluções.
Estes encontros possibilitam,
principalmente:
- livre exposição de
idéias;
- relato de experiências;
- troca de idéias e experiências;
- trabalho de equipes;
- consenso de equipes;
- decisões grupais;
- recomendações de
grupo.
Cremos que agora, valendo-nos da
honra que nos foi concedida de encerrar este Seminário, só
nos resta destacar a participação de todos, para
dizer que as colaborações, partindo de profissionais
de alto nível, em termos de formação e vivência,
perfeitamente integrados nos problemas enfocados no desenvolver
dos trabalhos, devem ser recolhidas como algo de muito importante
para ser aplicado já no presente, a curto prazo, ou no
futuro, a médio e longo prazos.
Para finalizar, os nossos calorosos
aplausos aos patrocinadores deste encontro, de um lado, o Clube de
Engenharia do Rio de Janeiro, como sempre atuante e, do outro, o
Jornal do Brasil cujo apoio nunca falta a eventos desta significação,
aplausos que estendemos, a todos quantos, direta ou indiretamente,
contribuíram para a sua realização.
Palestra no Copacabana Palace,
em 23 de novembro de 1979.
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